domingo, 2 de outubro de 2016

9 ano - Amor Líquido - 03/10/2016

Texto 01

Texto 02

O Amor Líquido da modernidade
Sara Cristina

          O tempo que se tem após a virada do século XX serve de abrigo a crescentes fatores sociais que influenciam, muitas vezes agressivamente, a conduta, as escolhas e a forma individual de estar, sentir e viver no mundo.
Somos uma nova geração (a geração “Y”), temos mais tecnologia, mais velocidade, novos direitos surgem, nunca como hoje houve tanta defesa quanto à liberdade de expressão e de “relação”. As empresas agora querem ser reconhecidas e preferidas também em função de sua preocupação ambiental e qualidade de vida; não querem apenas nosso dinheiro, querem nossa fidelidade, nos investigam, nos assistem, nos segmentam, nos catalogam. Querem fazer parte de nossa “felicidade”.
As propagandas apresentam alegria, entusiasmo, união, contagiam com a mensagem bonita do quão capaz de consumir a pessoa é (compre, seja, vista, sinta, mude, mantenha, preserve, alcance, deixe...). E quanto mais ela consumir, implicitamente, mais feliz ela será. Direitos e liberdades também passam a ser “discutidos” em reuniões que tratam de “direitos”. Que direito seria esse?
É realmente impressionante esta era, esta época constituída por pessoas que passaram a cultivar a efemeridade como se nada fosse feito para durar. Absolutamente nada. Impressionante. Zygmunt Bauman, importante filósofo, surpreende com a veracidade e sabedoria contida em sua obra intitulada “Amor Líquido”, nesse livro o autor explana sabiamente sobre essa sintomática social.
Em “Amor Líquido”, Bauman afirma que o amor acontece “até o segundo aviso”, amparado na conceituação dos bens de consumo: manter enquanto trouxer satisfação. Substituir por melhores que tragam satisfação ou custo-benefício maior, assim que necessário. Estão tentando substituir qualidade por quantidade. Para Bauman, isso nunca será possível e, mais cedo ou mais tarde, essa impossibilidade sempre será percebida. Infelizmente, muitas vezes tarde demais. “Amor não é objeto encontrado”, diz o filósofo.
Há, hoje, uma Nova Ordem e nela não há mais culpa, como se alguém tivesse disseminado na humanidade uma fórmula libertária que enaltecesse a leveza do descompromisso social e o consumo generalizado, o que resulta numa felicidade consequente. Será?
O que vivemos é Matrix. As pessoas estão fugindo da realidade e se refugiando em um berço de ilusão.
Alta competitividade, insegurança pessoal e social, sentimentos esfriados, solidão, falsidade, infidelidade, deslealdade, falta de comprometimento, criminalidade, impunidade, falta de representatividade, impostos, corrupção, pobreza, desemprego, exploração: todos querem fugir. Surgem, portanto, novos modelos de intimidade. O Amor ficou líquido, evidenciando, nesse sentido, a falência emocional humana. Há uma eterna confusão entre a solidão ou a não solidão, enquanto os reais problemas que ocasionaram isso são fortalecidos e ignorados “evolutivamente”.
Hoje, tudo implora praticidade e facilidade. Estão tentando fazer isso com o Amor, tendo em vista que sentir incerteza, ansiedade, insegurança, medo, ou o coração bater mais forte em função de uma paixão, é difícil, penoso, doloroso no risco de não ser reconhecido.
Realmente, nessa fuga da realidade com todas as suas formas de dores física, mental ou emocional, foi forjado um modelo social pautado em relacionamentos vazios. Amparados por terapias, remédios, livros de autoajuda, religiosidade (pessoas mergulham sua rotina em igrejas, mas não fazem ideia do que é ser verdadeiramente cristãos), estão todos vitimados nesse acovardamento que impede o surgimento de relacionamentos duradouros, de valor.
Ao saber que, atualmente, o Amor é líquido, resta questionar nossa representatividade na vida, sabendo-se que ela agora acontece real e virtualmente. Para Bauman, ter a consciência desse estado “líquido” de um dos sentimentos mais nobres da humanidade é algo valioso que pode gerar menos lamentações, stress, imaturidade perante o fracasso nas relações.
O Amor exige esforço, empenho e dedicação, amor é verbo, é ação. Estão tentando fazer da felicidade um enlatado para ser comprada em supermercado.
É preciso pensar fora da caixa.

Atividade:

1) A partir do texto, o que se compreende por “amor líquido” e quem é responsável pela elaboração desse conceito?
2) Com quais textos o artigo de opinião estabeleceu intertextualidade?
3) Conforme a autora, como se caracteriza a “Nova Ordem” vivenciada pela Geração Y?
4) O que a articulista quis dizer ao afirmar: “É preciso pensar fora da caixa”?
5) Qual relação é possível estabelecer entre o artigo de opinião e o curta-metragem? Escreva um comentário crítico de, no mínimo, 10 linhas.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

9º ano - Racismo - 08/08/2016

Veja o curta-metragem: O xadrez das cores (2004, 21 minutos), dirigido por Marco Schiavon, e responda às questões a seguir.




01) Pode-se afirmar que a personagem negra do curta sofre de invisibilidade?

02) Qual significado o jogo de xadrez assume no curta-metragem? Relacione esse significado ao nome do curta, “O xadrez das cores”.

03) Na partida final de xadrez, por que a empregada fica com as peças brancas e Maria, com as pretas?

04) Em que momento do enredo ocorre a negação do conformismo por parte de uma personagem?

05) O que é alteridade e como ela aparece no curta metragem?

06) Como se pode combater a discriminação racial?

domingo, 12 de junho de 2016

9º ano - Índios - 13/06/2016


Texto 01: Fragmento da Carta de Pero Vaz de Caminha

(...) Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhes um carneiro: não fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha, quase tiveram medo dela: não lhe queriam pôr a mão; e depois a tomaram como que espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada daquilo; e, se alguma coisa provaram, logo a lançaram fora. Trouxeram-lhes vinho numa taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes a água em uma albarrada. Não beberam. Mal a tomaram na boca, que lavaram, e logo a lançaram fora. Viu um deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós assim por assim o desejarmos. Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não o queríamos nós entender, porque não lho havíamos de dar. E depois tornou as contas a quem lhas dera. Então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir, sem buscarem maneira de cobrirem suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas. O Capitão lhes mandou pôr por baixo das cabeças seus coxins; e o da cabeleira esforçava-se por não a quebrar. E lançaram-lhes um manto por cima; e eles consentiram, quedaram-se e dormiram. (...)


(Pero Vaz de Caminha. In: Maria da Conceição Castro.. Língua e Literatura. vol1. SP: Saraiva, 1994)


Texto 02:

Índios

Legião Urbana

Quem me dera

Ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro
Que entreguei a quem
Conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora
Até o que eu não tinha



Quem me dera
Ao menos uma vez
Esquecer que acreditei
Que era por brincadeira
Que se cortava sempre
Um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda



Quem me dera
Ao menos uma vez
Explicar o que ninguém
Consegue entender:
Que o que aconteceu
Ainda está por vir
E o futuro não é mais
Como era antigamente.



Quem me dera
Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que não tem o bastante
Fala demais
Por não ter nada a dizer.



Quem me dera
Ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.


Quem me dera
Ao menos uma vez
Entender como só Deus
Ao mesmo tempo é três
Esse mesmo Deus
Foi morto por vocês
É só maldade então
Deixar um Deus tão triste.


Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.



E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.



Quem me dera
Ao menos uma vez
Acreditar por um instante
Em tudo que existe
E acreditar
Que o mundo é perfeito
Que todas as pessoas
São felizes...


Quem me dera
Ao menos uma vez
Fazer com que o mundo
Saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz
Ao menos obrigado.



Quem me dera
Ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos Índios
Não ser atacado
Por ser inocente.



Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.



E é só você que tem
A cura pro meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.


Nos deram espelhos
E vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.

Atividade:


1. De que ponto de vista a música é narrada: do colonizador ou do colonizado? Justifique com um ou mais versos da letra.

2. Quais as principais queixas em relação ao processo de colonização são apontadas na letra da música?

3. Interprete a passagem "Nos deram espelhos e vimos um mundo doente".

4. O que se depreende a partir do versos: “Quem me dera ao menos uma vez / Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três”.

5. Em qual verso da música se identifica ironia?

6. Qual efeito de sentido a repetição do verso “quem me dera ao menos uma vez” produz no texto?

7. É possível afirmar que há intertextualidade na música “Índios”. Apresente em qual texto e como essa intertextualidade ocorre.

domingo, 29 de maio de 2016

9º ano - Crônica Argumentativa - 30/05/2016

O Inferno de Disney

(Fernanda Torres, Folha de S. Paulo, 17/02/2012)

A Disney é um conceito apavorante de infância organizado em um sistema angustiante de filas
Por doze anos recusei levar meu filho à Disney. Uma convicção estética inarredável orientava a minha negação. Nessas férias, porém, uma viagem ao México com escala em Miami amoleceu meu coração de mãe.
No dia 24 de janeiro do fatídico ano de 2012, abandonei os maias e a esplendorosa península do Yucatán para entrar em um avião rumo à Orlando. A temporada de cinco dias na Flórida foi comparável aos círculos de sofrimento de "A Divina Comédia", de Dante.
Como Deus ora pelos inocentes, meu rebento menor, de três, caiu com 39 graus de febre no aeroporto de Cancún. A milagrosa virose o deixou de molho nas primeiras 72 horas de aflição na América, enquanto eu e o maior adentrávamos as profundezas da terra onde os sonhos se tornam realidade.
O Limbo, primeiro círculo de penitência, se apresentou na forma de montanhas-russas colossais que comprimem os sentidos a forças G inimagináveis. Deixei meus neurônios serem prensados contra a parede do crânio em loopings cadenciados, até ser cuspida tal e qual um zumbi agastado, tomado por abobamento crônico.
As máquinas medievais de martírio causam náusea, vômito e enxaqueca.
Para os que preferem sofrer ao rés do chão, simuladores provocam a mesma sensação de abismo sem saírem do lugar em que estão.
Na sétima hora do dia, enquanto era sugada, no lugar da chupeta, por uma Maggie Simpson descomunal, eu já não falava e nem me mexia. Caí dura no resort de golfe, "wonderland" da terceira idade muito frequente na região.
A Flórida é o último refúgio dos que viveram até a aposentadoria.
Abri o olho e reneguei assistir a tormenta das baleias cativas nos tanques do Sea World. Atrás de motivos para ser castigada, fui arrastada às compras por um furacão chamado luxúria.
Usufruímos o céu nublado da Universal da tarde seguinte. O ar de quermesse do parque vazio, o clima ameno e o Harry Potter nos fizeram crer na alegria infantil dos americanos. Driblamos bem a comida intragável, servida em porções individuais que alimentariam tribos inteiras. O jejum é dádiva quando se encara as aves inchadas a hormônio e o teor transgênico das lanchonetes. Orlando é a cidade campeã da obesidade mórbida; o Lago de Lama dos que sucumbiram à gula.
A última alvorada foi dedicada à Disney. O sol brilhou no sábado de inverno, atraindo a multidão bíblica que lotou os milhões de metros quadrados de hotéis, zoológicos e parques temáticos; interligados por rodovias, hidrovias e ferrovias futuristas.
A Disney é um conceito apavorante de infância organizado em um sistema angustiante de filas. É o ante-inferno dos indecisos que aguardam em caracóis indianos uma satisfação que nunca chega.
Você anseia para ter o direito de aguardar em pé, agarrada à democrática senha que só amplia a espera. A jornada se esvai em uma azucrinante administração de tickets. A condenação à eterna expectativa seria até suportável, não fosse o suplício sonoro.
Como vespas a picar os tímpanos, a voz aguda das musiquinhas enjoadas, os "cling", "cleng", "glom" das engenhocas de ferro e a proliferação de musicais da Broadway, encabeçados pelo grande show do castelo da Cinderela, são de perder a razão. E mesmo durante o safari, única esperança de silêncio ecológico, o timbre de buzina da guia aspirante à atriz vinha pinçar os nervos.
A comparação entre a delicadeza do Caribe mexicano e a artificialidade embalada em plástico de Orlando foi um choque e tanto.
Antes de partir, visitei o paraíso. Um pântano na zona rural povoado por crocodilos, peixes e pássaros semelhante ao gigantesco charco que Walt Disney adquiriu há décadas atrás.
Em paz, no meio da lagoa virgem, me perguntei o porquê da zona urbana daquele lugar manifestar um prazer masoquista tão arraigado.
Talvez seja culpa pelo excesso de ofertas nos supermercados, pela invenção do papel higiênico felpudo, do "super size" tudo, dos veículos alcoólatras e das cidades sem pedestres. A insustentável fartura social se penitencia tomando sustos em trem fantasmas mirabolantes.
Não é diversão, é dívida cristã. A Disney nasceu na Idade Média.

EXERCÍCIOS

01) Tendo em vista o texto acima, quais são as características que se pode depreender do gênero “crônica argumentativa”?

02) Apresente o significado das palavras a seguir:

a) Res-do-chão
b) Luxúria
c) Timbre
d) Masoquista
e) Suplício
f) Azucrinante
g) Sucumbir 
h) Cadenciado
i) Quermesse
j) Rebento

03) Qual é o paraíso que a cronista visitou antes de partir?

04) Por que a cronista afirma que a “Disney nasceu na Idade Média”?

05) Qual nome se dá para as palavras "cling", "cleng", "glom", apresentadas na crônica?

06) Identifique as intertextualidades presentes na crônica de Fernanda Torres.

07) Tanto a crônica “O Inferno de Disney” quanto o parque “Dismaland” apresentam quebra quanto ao estereótipo do parque da Disney. Relacione os dois textos e justifique sua resposta.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

7º ano - Chico Buarque - 04/05/2016

CONSTRUÇÃO
Chico Buarque 

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir 
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir 
Por me deixar respirar, por me deixar existir, 
Deus lhe pague 
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir 
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir 
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair, 
Deus lhe pague Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir 
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir 
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir, 
Deus lhe pague



Atividade:

1) O poema, que narra o dia de vida de um operário, é dividido em três partes. Quais versos marcam o fim de cada parte?

2) Quais vocábulos do poema indicam as ações do operário? A que situações essas palavras se referem?

3) É possível determinar a duração do tempo da narrativa?

4) “Tropeçou no céu como fosse um bêbado/ E flutuou no ar como fosse um pássaro”. Esses versos marcam o momento da tragédia, descrevendo-a com extrema sensibilidade e criando um clima poético. Indique os recursos empregados para isso ocorrer.

5) Qual recurso utilizado pelo autor para estabelecer musicalidade no poema?

6) Qual crítica está por traz do verso: “Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”?

terça-feira, 3 de maio de 2016

9º ano - Geni e o Zepelim - 02/05/2016

GENI E O ZEPELIM
Chico Buarque

De tudo que é nego torto

Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geleia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "Mudei de ideia!"
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniquidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir
Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni!
Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela)
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai, Geni!
Vai com ele, vai, Geni!
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni!
Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

ATIVIDADE


1- Quem é Geni? Ela sofre algum tipo de violência? Comprove a sua resposta com a canção.
2- Chico Buarque critica três instituições na canção. Cite essas três instituições e evidencie como são representadas na canção.
3- Durante a canção, o autor mostra a personalidade de Geni, mas não de forma pejorativa. Cite os versos que comprovam isso.
4- Explique que cidade era essa retratada pelos versos: “E é por isso que a cidade / Vive a sempre a repetir”.
5- É correto dizer que a música apresenta intertextualidade com a Bíblia? Justifique sua resposta.
6- Qual crítica social subjaz ao enredo da canção?