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O Amor Líquido da modernidade
Sara Cristina
Somos uma nova geração (a geração “Y”), temos mais tecnologia,
mais velocidade, novos direitos surgem, nunca como hoje houve tanta defesa
quanto à liberdade de expressão e de “relação”. As empresas agora querem ser
reconhecidas e preferidas também em função de sua preocupação ambiental e
qualidade de vida; não querem apenas nosso dinheiro, querem nossa fidelidade,
nos investigam, nos assistem, nos segmentam, nos catalogam. Querem fazer parte
de nossa “felicidade”.
As propagandas apresentam alegria, entusiasmo, união, contagiam
com a mensagem bonita do quão capaz de consumir a pessoa é (compre, seja,
vista, sinta, mude, mantenha, preserve, alcance, deixe...). E quanto mais ela
consumir, implicitamente, mais feliz ela será. Direitos e liberdades também
passam a ser “discutidos” em reuniões que tratam de “direitos”. Que direito
seria esse?
É realmente impressionante esta era, esta época constituída por
pessoas que passaram a cultivar a efemeridade como se nada fosse feito para
durar. Absolutamente nada. Impressionante. Zygmunt Bauman, importante filósofo,
surpreende com a veracidade e sabedoria contida em sua obra intitulada “Amor
Líquido”, nesse livro o autor explana sabiamente sobre essa sintomática social.
Em “Amor Líquido”, Bauman afirma que o amor acontece “até o
segundo aviso”, amparado na conceituação dos bens de consumo: manter enquanto
trouxer satisfação. Substituir por melhores que tragam satisfação ou
custo-benefício maior, assim que necessário. Estão tentando substituir
qualidade por quantidade. Para Bauman, isso nunca será possível e, mais cedo ou
mais tarde, essa impossibilidade sempre será percebida. Infelizmente, muitas
vezes tarde demais. “Amor não é objeto encontrado”, diz o filósofo.
Há, hoje, uma Nova Ordem e nela não há mais culpa, como se alguém
tivesse disseminado na humanidade uma fórmula libertária que enaltecesse a
leveza do descompromisso social e o consumo generalizado, o que resulta numa
felicidade consequente. Será?
O que vivemos é Matrix. As pessoas estão fugindo da realidade e se
refugiando em um berço de ilusão.
Alta competitividade, insegurança pessoal e social, sentimentos
esfriados, solidão, falsidade, infidelidade, deslealdade, falta de
comprometimento, criminalidade, impunidade, falta de representatividade,
impostos, corrupção, pobreza, desemprego, exploração: todos querem fugir.
Surgem, portanto, novos modelos de intimidade. O Amor ficou líquido,
evidenciando, nesse sentido, a falência emocional humana. Há uma eterna
confusão entre a solidão ou a não solidão, enquanto os reais problemas que
ocasionaram isso são fortalecidos e ignorados “evolutivamente”.
Hoje, tudo implora praticidade e facilidade. Estão tentando fazer
isso com o Amor, tendo em vista que sentir incerteza, ansiedade, insegurança,
medo, ou o coração bater mais forte em função de uma paixão, é difícil, penoso,
doloroso no risco de não ser reconhecido.
Realmente, nessa fuga da realidade com todas as suas formas de
dores física, mental ou emocional, foi forjado um modelo social pautado em
relacionamentos vazios. Amparados por terapias, remédios, livros de autoajuda,
religiosidade (pessoas mergulham sua rotina em igrejas, mas não fazem ideia do
que é ser verdadeiramente cristãos), estão todos vitimados nesse acovardamento
que impede o surgimento de relacionamentos duradouros, de valor.
Ao saber que, atualmente, o Amor é líquido, resta questionar nossa
representatividade na vida, sabendo-se que ela agora acontece real e
virtualmente. Para Bauman, ter a consciência desse estado “líquido” de um dos
sentimentos mais nobres da humanidade é algo valioso que pode gerar menos
lamentações, stress, imaturidade perante o fracasso nas relações.
O Amor exige esforço, empenho e dedicação, amor é verbo, é ação.
Estão tentando fazer da felicidade um enlatado para ser comprada em
supermercado.
É preciso pensar fora da caixa.
Atividade:
Atividade:
1) A partir do texto, o que se compreende por “amor líquido” e quem é responsável pela elaboração desse conceito?
2) Com quais textos o artigo de opinião estabeleceu intertextualidade?3) Conforme a autora, como se caracteriza a “Nova Ordem” vivenciada pela Geração Y?
4) O que a articulista quis dizer ao afirmar: “É preciso pensar fora da caixa”?
5) Qual relação é possível estabelecer entre o artigo de opinião e o curta-metragem? Escreva um comentário crítico de, no mínimo, 10 linhas.
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