terça-feira, 19 de abril de 2016

9º ano - Construção - 18/04/2016

CONSTRUÇÃO
Chico Buarque 

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir 
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir 
Por me deixar respirar, por me deixar existir, 
Deus lhe pague 
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir 
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir 
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair, 
Deus lhe pague Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir 
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir 
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir, 
Deus lhe pague



Atividade:

1) O poema, que narra o dia de vida de um operário, é dividido em três partes. Quais versos marcam o fim de cada parte?

2) Quais vocábulos do poema indicam as ações do operário? A que situações essas palavras se referem?

3) É possível determinar a duração do tempo da narrativa? Os fatos narrados estão em qual tempo verbal? (Ao identificar o tempo verbal, apresente o que isso significa).

4) É possível afirmar que, no início do poema, existe uma tragédia anunciada? Justifique sua resposta.

5) “Tropeçou no céu como fosse um bêbado/ E flutuou no ar como fosse um pássaro”. Esses versos marcam o momento da tragédia, descrevendo-a com extrema sensibilidade e criando um clima poético. Indique os recursos empregados para isso ocorrer.

6) Qual recurso utilizado pelo autor para estabelecer musicalidade no poema?

7) Qual crítica subjaz ao verso: “Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”?

8) Escreva um parágrafo argumentativo problematizando a situação retratada pelo poema.

8º ano - Eduardo e Mônica - 18/04/2016

Eduardo e Mônica
Legião Urbana


Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?

Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade, como eles disseram

Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Um carinha do cursinho do Eduardo que disse
"Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir"

Festa estranha, com gente esquisita
"Eu não tô legal, não aguento mais birita"
E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
"É quase duas, eu vou me ferrar"

Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard

Se encontraram, então, no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo

Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês

Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com seu avô

Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda tava no esquema
Escola, cinema, clube, televisão

E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia, como tinha de ser

Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro, artesanato, e foram viajar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar

Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar (não!)
E ela se formou no mesmo mês
Que ele passou no vestibular

E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela
E vice-versa, que nem feijão com arroz

Construíram uma casa há uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana, seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram

Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão
Só que nessas férias, não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação

E quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?



ATIVIDADE:

01)         Apesar de o texto “Eduardo e Mônica” ter sido escrito em verso, de qual gênero textual ele se aproxima? Justifique sua resposta.

02)         Em quais versos se pode depreender que Eduardo e Mônica estão apaixonados?

03)         Por se tratar de um texto que se assemelha a uma narrativa, complete a tabela abaixo:

Situação inicial


Conflito


Clímax



Desfecho


04)         É possível inferir, a partir da música, qual personagem era a mais madura da relação? Comprove sua resposta apresentando as características de Eduardo e de Mônica.

05)         Em relação ao verso: “Ela falava coisas sobre o Planalto Central”. Sobre o que Mônica falava?

06)         Por que foram utilizados vários vocábulos informais na letra da música? Responda a essa pergunta e, em seguida, apresente os significados que as seguintes expressões coloquiais assumem no texto:

a)  Eu não estou legal. Não aguento mais “birita”
b)  A “barra mais pesada” que tiveram.
c)  Se encontraram então no parque da cidade. A Monica de moto e o Eduardo de “camelo”.


07)       Existe alguma relação entre o narrador da história e o casal Eduardo e Mônica? Justifique sua reposta com trecho da narrativa.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

9º ano - A flor e a náusea - 11/04/2016

A flor e a náusea
Carlos Drummond de Andrade


Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.





Atividade:

01) O que significa o nascimento da flor?

02) Qual relação se pode estabelecer entre este poema e o momento histórico em que foi elaborado?

03) O que representa o verso: “Façam completo silêncio, paralisem os negócios / garanto que uma flor nasceu”.

04) Os versos apresentam rima? Releia o poema e discuta a respeito de sua métrica.

05) Qual interpretação se denota do verso: “Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego”?

06) Assinale a alternativa incorreta.

a) Logo no início do primeiro verso, o termo preso enfatiza a sensação de impotência do eu lírico diante da realidade.
b) O texto apresenta um contraste entre o eu e o mundo: “vou de branco pela rua cinzenta”.
c) O passeio pela rua cinzenta leva o sujeito à náusea, ao desejo de “vomitar esse tédio sobre a cidade”
d) Em “Melancolias, mercadorias, espreitam-me”, há aproximação entre o mundo subjetivo e o objetivo.
e) O nascimento da flor representa a fragilidade do indivíduo diante de um mundo sem esperança.


quarta-feira, 6 de abril de 2016

9º ano - A rosa de Hiroshima - 04/04/2016

01) Leia o poema a seguir e responda às questões apresentadas.


A Rosa de Hiroshima

Vinícius de Moraes

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas

Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas

Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida

A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

ATIVIDADE

a) Explique a metáfora expressa em “A rosa de Hiroshima”.

b) A que contexto histórico o poema se refere?

c) Quais trechos da canção abordam as consequências da radioatividade?

d) Explique as expressões destacadas: “Sem cor, sem perfume / Sem rosa, sem nada”.


e) Qual será o sentido do verso "A rosa radioativa / Estúpida e inválida"?

f) Tendo em vista a construção poética engajada, discorra acerca do papel da arte.