quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

8º ano - Carlos Drummond - 22/02/2016

Necrológio dos desiludidos do amor


Carlos Drummond de Andrade



Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh, quanta matéria para os jornais.

Desiludidos, mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.

Pum pum pum, adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.

Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.




ATIVIDADE:

01) Defina o conceito “eu-lírico” ou “sujeito-lírico”.

02) Qual foi o ato cometido pelos desiludidos na primeira estrofe do poema? Com qual intuito esse ato se justifica?

03) O ato insensato e manipulador dos desiludidos gerou a consequência esperada nas amadas? Justifique sua resposta com trechos do poema.

04) Por que o eu-lírico afirma que os desiludidos possuíam “vísceras imensas/tripas sentimentais”?

05) Tendo em vista seus conhecimentos gramaticais, responda:

a) Quantas frases há no texto?
b) Aponte uma frase sem verbo.
c) Aponte uma oração com locução verbal.
d) Na oração: " Do meu quarto ouço a fuzilaria", evidencie e classifique o sujeito.
e) Na oração: "Os desiludidos do amor estão desfechando tiros no peito", aponte o sujeito e diga qual é o seu núcleo.


06) Qual o sentido da palavra necrológio, que aparece no título do poema?


9º ano - Leminski - 22/02/2016

O ASSASSINO ERA O ESCRIBA

Paulo Leminski

Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.


ATIVIDADE:

01) Paulo Leminski, de forma humorada, cria-nos o perfil do professor de análise sintática. Qual a visão que o poema transmite do professor de português? Justifique sua resposta com passagens do texto.

02) Às vezes, as palavras empregadas em um texto apresentam mais de um valor semântico.
a) Qual figura de linguagem descreve a frase ou expressão que pode ser entendida de duas maneiras distintas?
b) O uso dessa figura de linguagem é adequado para todos os gêneros textuais? Justifique sua resposta.

03) Explique o sentido por trás do emprego das palavras destacadas no texto.

04) Com o auxílio de uma gramática, defina e dê exemplos de todos os termos da sintaxe e da morfologia sublinhados no texto.

05) Questione a intenção do eu-lírico de matar o professor de análise sintática (ou melhor, os professores de língua portuguesa).