domingo, 31 de janeiro de 2016

8º ano - Compreendendo a Crônica Humorística - 01/02/2016

OS NAMORADOS DA FILHA

Moacyr Scliar

Quando a filha adolescente anunciou que ia dormir com o namorado, o pai não disse nada. Não a recriminou, não lembrou os rígidos padrões morais de sua juventude. Homem avançado, esperava que aquilo acontecesse um dia. Só não esperava que acontecesse tão cedo.
Mas tinha uma exigência, além das clássicas recomendações. A moça podia dormir com o namorado:
            ─ Mas aqui em casa.
            Ela, por sua vez, não protestou. Até ficou contente. Aquilo resultava em inesperada comodidade. Vida amorosa em domicílio, o que mais podia desejar? Perfeito.
            O namorado não se mostrou menos satisfeito. Entre outras razões, porque passaria a partilhar o abundante café da manhã da família. Aliás, seu apetite era espantoso: diante do olhar assombrado e melancólico do dono da casa, devorava toneladas do melhor requeijão, do mais fino presunto, tudo regado a litros de suco de laranja.
             Um dia, o namorado sumiu. Brigamos, disse a filha, mas já estou saindo com outro. O pai pediu que ela trouxesse o rapaz. Veio, e era muito parecido com o anterior: magro, cabeludo, com apetite descomunal.
            Breve, o homem descobriria que constância não era uma característica fundamental de sua filha. Os namorados começaram a se suceder em ritmo acelerado. Cada manhã de domingo, era uma nova surpresa: este é o Rodrigo, este é o James, este é o Tato, este é o Cabeça. Lá pelas tantas, ele desistiu de memorizar nomes ou mesmo fisionomias. Se estava na mesa do café da manhã, era namorado. Às vezes, também acontecia ─ ah, essa próstata, essa próstata ─ que ele levantava à noite para ir ao banheiro e cruzava com um dos galãs no corredor. Encontro insólito, mas os cumprimentos eram sempre gentis.
             Uma noite, acordou, como de costume, e, no corredor, deu de cara com um rapaz que o olhou apavorado. Tranquilizou-o:
              ─ Eu sou o pai da Melissa. Não se preocupe, fique à vontade. Faça de conta que a casa é sua.
              E foi deitar.
              Na manhã seguinte, a filha desceu para tomar café. Sozinha.
              ─ E o rapaz? ─ perguntou o pai.
              ─ Que rapaz? ─ disse ela.
              Algo lhe ocorreu, e ele, nervoso, pôs-se de imediato a checar a casa. Faltava o CD player, faltava a máquina fotográfica, faltava a impressora do computador. O namorado não era namorado. Paixão poderia nutrir, mas era pela propriedade alheia.

             Um único consolo restou ao perplexo pai: aquele, pelo menos, não fizera estrago no café da manhã.

EXERCÍCIOS:

1) Quais são as características básicas da crônica?
2) De acordo com a estrutura do texto narrativo lido, apresente: 
a) A situação inicial
b) O conflito
c) O clímax
d) O desfecho
3) O fato de o pai aceitar que sua filha dormisse com o namorado surpreende o leitor? Justifique sua resposta.
4) Como o narrador conseguiu tornar o cômico o equívoco do pai, no final do texto?
5) Qual sua opinião a respeito do comportamento da adolescente do texto?
6) Defina as palavras: descomunal; constância; perplexo; insólito.

9º ano - Invisibilidade Social - 01/02/2016

UMA VELA PARA DARIO 
Dalton Trevisan

Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se na parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.
Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.
Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.
Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.
A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado à parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.
Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las.
Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.
Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.
Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes.
O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio – quando vivo – só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão.
A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto.
Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.
Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.
Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario, à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.

Texto extraído do livro "Vinte Contos Menores",  Editora Record – Rio de Janeiro, 1979, pág. 20.



Alagoano, Pereira tinha 23 anos e viajou de Maceió para trabalhar durante a temporada em Florianópolis. No domingo, 24, os salva-vidas o viram sendo perseguido por dois homens. Ele foi esfaqueado no rosto, nas costas e no abdômen pelos criminosos. Pereira não resistiu aos ferimentos.
A cena que envolveu o assassinato deixou outros comerciantes que trabalham na praia impressionados com o desdém da população. O corpo do vendedor permaneceu por duas horas na areia.
Matheus da Conceição Prado, 29 anos, vende água mineral em frente à guarita onde Pereira foi assassinado. Ele conta que as pessoas não demoraram a voltar ao lazer e ignoraram o corpo estirado na areia.
As mulheres estavam lá, passando bronzeador. As crianças brincando no mar. Pessoal pedindo coisas pra comer e beber. E ele ali, com uma cobertinha azul. Fui pra casa me sentindo mal. Poderia ser comigo, ninguém iria se importar.


EXERCÍCIOS

1. Retire do conto de “Uma vela para Dario” trechos que fundamentam a seguinte afirmação: “O narrador conta uma história urbana”.
2. Qual foi o último momento do conto em que Dario demonstra estar vivo?
3. Quais adjetivos você usaria para caracterizar as pessoas que se apossaram dos objetos pessoais de Dario­­­­­­­­­­­­­?
4. Em que momento do texto a atitude das pessoas em relação a Dario passa da mera curiosidade à degradação moral? 
5. O título do texto se refere ao gesto de um menino. Em sua opinião, o que difere esse gesto das atitudes das demais personagens do texto?
6. O conto de Dalton Trevisan e a reportagem compartilham uma mesma temática: a degradação da morte no ambiente urbano. Com base em seu conhecimento, escreva um parágrafo argumentativo que apresente a relação entre esses dois textos e a causa para essa problemática urbana.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

7º ano - A arte de fazer arte - 27/01/2016


1) A pintura tem em destaque a personagem Magali, que faz parte da Turma da Mônica.

Sorvete Bacana (2005)


a) Qual é a característica mais conhecida de Magali?
b) Essa característica é sugerida no quadro? Por quê?

2) Observe outra pintura, do pintor italiano Caravaggio (1571-1610)

Grande Baco (1596-7)

a) Qual das duas obras serviu de modelo para a outra?
b) Qual das duas obras estabelece relação intertextual com a outra? Justifique sua resposta.

3) Compare as pinturas de Mauricio de Souza e de Caravaggio.
a) Que semelhança há entre elas?

4) Defina o conceito "intertextualidade".

5) Na arte, há muitos casos de intertextualidade. Apresente um exemplo de pintura, história, música ou filme em que um texto cita outro. 

7º ano - Redes sociais e seus problemas - 26/01/2016

1) Com base na charge abaixo, responda:
 

  a) Qual tipo de linguagem foi utilizado pela charge para evidenciar a opinião do garçom?

  b) É possível encontrar uma contradição na charge? Justifique sua resposta.


2) Com base na tirinha apresentada abaixo, responda:

 a) O que provoca o humor na tirinha?

 b) A tirinha faz alguma crítica quanto ao uso das redes sociais? Justifique sua resposta.

REPORTAGEM:

REdes Sociais: pesquisas apontam que uso em excesso pode causar vício e depressão
"Uso excessivo de redes sociais pode causar vício e depressão". É o que afirma a pesquisa desenvolvida, em 2011, pela Academia Americana de Pediatria. O professor universitário Gabriel Oliveira, no entanto, alerta: "devemos destacar o termo excessivo". Ele avalia que é necessário impor um limite, em especial entre adolescentes, mas que há benefícios nas redes sociais que também devem ser considerados, como a socialização e as mobilizações virtuais.
  Os pesquisadores responsáveis pelo estudo o denominaram de 'Depressão Facebook', a qual atinge, especialmente, adolescentes que ficam horas do dia navegando nas redes sociais. De acordo com a pesquisa, o uso sem moderação poderia acarretar atos de cyberbullying, ansiedade social, isolamento severo e vício que se assemelha ao de substâncias químicas . Nesse sentido, é essencial que os pais acompanhem a vida virtual dos filhos.
  Na avaliação de Gabriel, a forte adesão de adolescentes às redes sociais reflete características próprias da juventude, como formação da identidade, necessidade de socialização e autoafirmação. 
  Segundo a pesquisa, os jovens que desenvolvem depressão, já manifestam tendência ao isolamento ou ansiedade e buscam na internet uma forma de interagir com outras pessoas. Quando essa relação não se estabelece, eles ficam deprimidos. O estudo alerta para que os pais avaliem se o período dedicado aos relacionamentos virtuais não estão interferindo na construção de relacionamentos reais.

Fonte: UOL Notícias

3) Escreva um parágrafo (de, no mínimo, 6 linhas) relacionando a notícia apresentada à charge e à tirinha sobre o uso das redes sociais em excesso.

6º ano - A problemática do lixo - 26/01/2016

O BICHO 

Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira

EXERCÍCIOS

a) Qual problemática social é tratada no poema “O Bicho”, de Manuel Bandeira?
b) Manuel Bandeira utiliza alguns verbos característicos de atitudes de animais, referindo-se ao homem. Cite esses verbos e justifique o emprego deles no poema.
c) Por que o autor se refere ao homem como “bicho-homem”?
d) Que sentimento o poeta revela ao dizer “meu Deus”?
e) O texto antecipa ao leitor que a personagem “não era um cão, não era um gato, não era um rato”. Por que alguém poderia pensar, inicialmente, que a personagem fosse um desses bichos?
f) Escreva um parágrafo (de, no mínimo, 4 linhas) relacionando o poema de Manuel Bandeira ao vídeo apresentado em sala.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

9º ano - Invisibilidade Pública - 25/01/2016

O caso de Fernando Braga, psicólogo da USP       
        Uma vez por semana, Fernando Braga da Costa veste uniforme e vai varrer ruas. Carrega esterco, limpa fossas, trabalha debaixo de chuva ou sol. Por causa disso, desenvolveu tendinite nos antebraços. A rotina começou há 10 anos, com um trabalho de Psicologia Social, disciplina que cursava na USP e que propunha aos alunos assumirem uma profissão reservada às classes pobres durante um dia. Fernando escolheu ser gari na própria universidade. As descobertas o levaram a estudar profundamente a relação da sociedade com esses trabalhadores, o que resultou no livro Homens Invisíveis – Relatos de uma Humilhação Social (Globo, 256 págs., R$ 32).
        “Como gari, senti na pele o que é um trabalho degradante. Vivi situações que me impulsionaram a entender melhor o  nosso meio psicossocial”, explica ele, que desenvolveu a tese sobre a “invisibilidade pública”, isto é, profissionais como faxineiros, ascensoristas, empacotadores e garis não são “vistos” pela sociedade, que enxerga a função, e não a pessoa. Uma das situações experimentadas por Fernando foi atravessar os corredores da faculdade uniformizado. Ninguém nem sequer olhou para ele ou o cumprimentou. “A invisibilidade e a humilhação repercutem até na maneira como você anda,  fala, olha. Eles não conseguem nos olhar de frente e, quando olham, piscam rapidamente. O modo de andar lembra movimentos de robô”, conta ele.

         O objetivo não é só conquistar condições melhores para os varredores. “É preciso reinventar a divisão de trabalho para que não exista uma pessoa responsável por limpar nossa sujeira. Se não, não conheceremos democracia de verdade ou uma sociedade de iguais. O trabalho de gari parece natural hoje como a escravidão era há 300 anos.


EXERCÍCIOS
1) É possível relacionar o texto da reportagem ao vídeo apresentado? Justifique sua resposta.
2) Segundo o psicólogo Fernando Braga, o que deveria ser feito para solucionar a invisibilidade social que acomete os garis?
3) Na sua opinião, por que existe invisibilidade social? Com base na aula e em seu conhecimento de mundo, escreva um comentário argumentativo (de 5 linhas, no mínimo) a respeito desse tema.

domingo, 24 de janeiro de 2016

8º ano - Desigualdade Social - 25/01/2016

Colégio Olimpo
Interpretação de texto – Professor Murillo                    
8º ano – Aula 25/01/2016

Piscina

Era uma esplêndida residência, na Lagoa Rodrigo de Freitas, cercada de jardins e, tendo ao lado, uma bela piscina. Pena que a favela, com seus barracos grotescos se alastrando pela encosta do morro, comprometesse tanto a paisagem.
            Diariamente desfilavam diante do portão aquelas mulheres silenciosas e magras, lata d’água na cabeça. De vez em quando surgia sobre a grade a carinha de uma criança, olhos grandes e atentos, espiando o jardim. Outras vezes eram as próprias mulheres que se detinham e ficavam olhando.
            Naquela manhã de sábado ele tomava seu gim-tônica no terraço, e a mulher um banho de sol, estirada de maiô à beira da piscina, quando perceberam que alguém os observava pelo portão entreaberto.
            Era um ser encardido, cujos trapos em forma de saia não bastavam para defini-la como mulher. Segurava uma lata na mão, e estava parada, à espreita, silenciosa como um bicho. Por um instante as duas mulheres se olharam, separadas pela piscina.
            De súbito pareceu à dona de casa que a estranha criatura se esgueirava, portão adentro, sem tirar dela os olhos. Ergue-se um pouco, apoiando-se no cotovelo, e viu com terror que ela se aproximava lentamente: já atingia a piscina, agachava-se junto à borda de azulejos, sempre a olhá-la, em desafio, e agora colhia água com a lata. Depois, sem uma palavra, iniciou uma cautelosa retirada, meio de lado, equilibrando a lata na cabeça – e em pouco sumia-se pelo portão.
            Lá no terraço o marido, fascinado, assistiu a toda acena. Não durou mais de um ou dois minutos, mas lhe pareceu sinistra como os instantes tensos de silêncio e de paz que antecedem um combate. Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa.

Fernando Sabino. A mulher do vizinho, Rio de Janeiro, 1976.


Exercícios:

1)    Na visão do narrador, o que atrapalhava a paisagem vista de casa?

2)    É possível deduzir qual é o nível social dos moradores da casa?

3)    No segundo parágrafo, o narrador menciona um movimento de “mulheres silenciosas e magras” diante do portão da casa.
            a) É possível inferir de onde são essas mulheres?
            b) Deduza em que condições as mulheres vivem.

4)    Releia este trecho:

               “Por um instante as duas mulheres se olharam, separadas pela piscina”.

        Considerando que o título da crônica é “Piscina”, responda: o que a piscina representa nesse contexto?

5)    A impressão de “instantes tensos de silêncio e de paz que antecedem um combate” que o marido tem da cena aplica-se à situação atual do nosso país? É possível dizer que vivemos hoje momentos tensos de silêncio e de paz? Justifique com exemplos.